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micaias

A Guerra e a Descolonização

Avatar do autor Jota.Coelho, 20.06.10

 


 

Os militares Portugueses cumpriram a sua missão, muitas vezes para além do que a Pátria lhes pedia.

 

Por causa da guerra, os combatentes viram muitos dos seus sonhos adiados ou perdidos. 

   AS CAUSAS DA GUERRA E OS TRAUMAS

 Depois da guerra em Angola, onde fundamentei a minha razão de basculhar tudo até encontrar a verdade, passados os anos do desespero e os efeitos da matança de 1961, comecei a perceber a dimensão do confronto de interesses dos países potencialmente desenvolvidos à custa da desgraça que caiu sobre os povos residentes nos países com grandes quantidades de matéria-prima e reservas minerais de grande consumo nos países industriais mais avançados.

Por causa das riquezas alheias, desencadeiam-se guerras que dilaceram os países em construção. Angola e Moçambique poderiam ter-se desenvolvido harmoniosamente e em paz se não estivessem por detrás os interesses dos gananciosos pelas ricas reservas naturais emergentes nesses países. E, só depois de tudo desintegrado pelas máquinas de guerra, tomámos consciência do que se perdeu, incluindo os laços de amizade e os meios onde nascemos e vivemos em harmonia com a natureza. Não fossem esses interesses antagónicos dos países mais desenvolvidos, o entendimento com os representantes dos povos com os quais estivemos em guerra poderia ter seguido o caminho dos interesses mútuos e ter-se-ia evitado tanta desgraça, ódios e prejuízos. Como já referi neste espaço, tenho familiares que foram escorraçados e gravemente afectados no seu património e na sua dignidade. Mas, culpar os combatentes por tal desastre na descolonização é não querer perceber a dimensão das forças que nos combatiam no exterior das terras africanas e que impediam qualquer entendimento com os povos locais. A voracidade das forças em presença foi a causa da guerra civil desencadeada após a descolonização.  

Os danos da guerra são dolorosos e deixam feridas difíceis de curar. Além da destruição dos bens, perdem-se amizades e as relações entre seres humanos não valorizam a vida e a sua essência. É contra todas essas perdas que procuro reagir dando valor à riqueza que nos resta - fortes laços de amizade e camaradagem porque, entre os intervenientes nas guerras, esses valores foram a trave mestra a segurar a frágil condição humana de muitos combatentes, nos primeiros tempos de missão. Alguns perderam a bússola das suas vidas, numa agitação anormal da consciência e das emoções; não fora a mística do companheirismo e a desgraça dos traumatizados teria atingido uma dimensão muito mais grave e penosa para a sociedade portuguesa.      

          Joaquim Coelho

 VER:  https://guerracolonial61.wixsite.com/coelho

Material de guerra apreendido ao inimigo. Armas que nos poderiam matar!

 

Os "retornados" perderam muitos dos seus bens, as ligações à terra onde nasceram ou viveram felizes, mas sobreviveram há chacina, porque a tropa portuguesa nunca os abandonou.

leopoldville-postcard-1960.jpg 

É preciso lembrar que, no antigo Congo Belga, em 1960/61, foram chacinados mais de três mil colonos brancos, que recusaram abandonar as suas lojas e haveres, mesmo depois dos militares belgas embarcarem nos últimos aviões existentes no aeroporto de Leopoldville, com com a independência.

Mais de dez mil combatentes perderam a vida na guerra.

 


 

 

Memórias de Angola

Avatar do autor Jota.Coelho, 14.02.10

 

A CAÇADA ATRIBULADA
 
O Zé Trigueiro é mestre na caça grossa; manhã cedo, com os primeiros raios de sol, avança de mira apontada na pakassa e não se deu conta do emaranhado de lianas que servem de armadilha para reter a viatura… mesmo assim não perde de vista a sua caça. Acontece que uma manada de pakassas se enfureceu e tentou encornar as viaturas que ficaram à mercê dos seus ataques raivosos. De cima das árvores que nos protegiam da fúria dos corpulentos animais, conseguimos abater duas boas pakassas que ajudaram a aliviar a dor do que estava para acontecer.
Mas nem tudo está de feição nestas matas da estrada do Úcua; enquanto toma a merecida refeição do almoço, o filho que é traquina, andava a deambular junto das máquinas dos serviços de estradas, e deu-lhe para ir dormir dentro da pá da escavadora, sem ninguém desse por isso! A presunção da tragédia está ali a 20 metros, nas águas que correm avassaladoras no rio Úcua. Mal o Zé Trigueiro deu pela falta do filho, logo imaginou que tivesse sido levado pela corrente; todos se apressam a procurar nas margens perigosas do rio, sempre até longe. Coração de pai faz chorar no desespero da incerteza da perda do filho. Passam os minutos e mais de duas horas de buscas infrutíferas, o homem senta-se, pesaroso, mãos na cabeça, inconformado com tal infortúnio.
 Os companheiros de caça presentes tentam mais uma vez encontrar o corpo preso nas ramagens que orlam as margens. Momentos de espanto e de contida alegria; o rapaz levanta-se da sua soneca lá no cimo da pá mecânica e abre os braços num amplo gesto de espreguiçar! O pai, descontrolado, ralha com o filho, mal este desce da máquina, leva logo uma bofetada que o atira para o chão. Mal refeito do susto, o homem abraça o filho e tudo volta à calma messiânica.
Ainda houve tempo para caçar algumas peças destinadas ao mercado da Maria da Fonte, onde o Zé tinha o seu posto de venda de carne fresca.
 
Luanda, Maio de 1962

 Joaquim Coelho

Acácia em Luanda (2).jpg

A-a caminho de Carmona..jpg

....Luanda, Av Combatentes1968.jpg


 

Guerra em Angola

Avatar do autor Jota.Coelho, 13.01.10


GUERRA em Angola

  Para repor a verdade sobre algumas opiniões, aqui deixo parte de um rascunho sobre a Guerra de Angola - 1962 e a intervenção dos Caçadores Especiais e da Vanguarda de Voluntários:  

 

                  

 VER mais:  https://jotasousa39.wixsite.com/coelho

PEDRA VERDE - Reconquistas

 

A primeira incursão para tomada da “Pedra Verde” foi protagonizada por tropas do Exército, tendo como pontas de lança os Caçadores Especiais. Por ser um morro de difícil acesso, bombardeado severamente e reocupado pelo Exército. Quando os estrategas militares entenderam que deixou de ter interesse como ponto de quadrícula, logo os bandoleiros da UPA voltaram a tomar conta do local. Pois, as diversas minas e grutas servem para se protegeram das bombas da Força Aérea, e dali atacam as tropas portugueses que se deslocam nas picadas próximas. Passar pela estrada Piri é um perigo constante para os camionistas e para a tropa.
Em 1962, tropas do Exército, em colaboração com os pára-quedistas e aviões PV2, voltaram a desalojar os bandidos.
Por ser um ponto que domina as estradas do Úcua para o Piri, Pango Aluquem, Bula e Quibaxe, as tropas portuguesas tentam manter o controlo do morro.
Após a última operação de ataque à Pedra Verde, quando toda a tropa seguia para os respectivos acampamentos, foi-nos determinado fazer o percurso a corta-mato, seguindo pelo lado do Dange até Quibaxe. Para os estrategas, que vêm o terreno de avião, a coisa parece simples de marcar os itinerários! Tivemos de procurar os trilhos menos “usados”, porque as surpresas não agradam e nos três dias anteriores os corpos sofreram um desgaste notável. A progressão no terreno não foi fácil, mas em compensação, encontrámos diversos esconderijos que destruímos. E aproveitámos uma fazenda abandonada para a pernoita atribulada.
Muito perto do vale do Dange, antes de seguirmos para Quibaxe, descobrimos grande quantidade de árvores com papaias/mamões, e boa água. Enquanto uns aproveitaram para encherem os cantis e repousar, outros trataram do “reabastecimento”, colhendo mamões (papaias). Aquilo é que foi aproveitar as benesses da mãe natureza!
Ninguém contou com a surpresa maior – os bandoleiros ficaram zangados por não terem sido convidados e zás: lançam um ataque com armas finas (automáticas), apanhando dois ou três desprevenidos a colher os frutos. Entre eles, estava o Parreira a colher papaias que lançava para os companheiros que os juntavam para a equipa. Um tiro certeiro abanou-lhe o capacete!... quando o projéctil entrou por detrás da aba, circulou entre o couro cabeludo e o ferro do capacete e, ao sair pela frente, causou um ferimento ligeiro por cima do sobrolho. O sangue escorria pela face e orelha esquerda, quando o Parreira se deu conta do ocorrido e, perante os olhares dos dois soldados que esperavam receber mais frutos daquela colheita, o Parreira esmoreceu... Ficou mais combalido com a queda abaixo do mamoeiro do que com o tiro! Meio atordoado, levantou-se e desmaiou de seguida, por se ter dado conta do sangue a escorrer-lhe sobre os olhos.
Mas aquele ligeiro esmorecimento logo foi compensado com um abraço do comandante da sua secção, que o animou ao colocar um penso em cima da zona ferida, estancando-a. Foi limpando os sinais do sangue derramado, enquanto o pessoal presente preparava os equipamentos para a deslocação até ao aquartelamento de Quibaxe. Não tardou a aparecer a DO27 para transportar o Parreira ao hospital de Luanda. Logo alguém disse: «Querias mamões (papaias)... mas também levas chumbo!
Bem dizem os “Voluntários” que:
«A caminho de QUITEXE - Quem tem sorte foge à morte.»
Naquela região, a simples função de encher água nos cantis obriga a manter vigilância apertada, porque os bandoleiros aparecem de qualquer lado. Eles são tantos que um simples descuido pode ser fatal.
Tal como nos primeiros meses da guerra, esta região dos Dembos tem sido complicada para muitas das colunas que fazem o percurso da estrada do Úcua para Quibaxe e mais para Norte: Negage, Carmona, Quitexe e outras localidades do café.
Os Voluntários da “Vanguarda Salazar” já têm uma dramática experiência das horas de repouso, e das surpresas que assustam nas imediações da estrada do Piri. Na estrada de Quitexe, foram surpreendidos por um grupo de mais de duzentos bandoleiros que, em menos de dez minutos, ceifaram a vida a sete voluntários. Embora a reacção pronta dizimasse parte dos atacantes, a marca da morte ficou bem vincada nos olhos dos voluntários. 

 

Joaquim Coelho

in "O Despertar dos Combatentes" 

- pedidos a:  jotasousa39@gmail.com

- Vale do rio Mbridge - esconderijos inimigos....j