Do Livro: “Pára-quedistas em Combate: 1961-1975”,
do Coronel Pára-quedista Nuno Mira Vaz.
A 3.ª Companhia do BCP 31, sediada na Beira, sob o comando do capitão António Pessoa, estava prestes a terminar a operação Mocho na zona de Napota (a sul de Nangade), no Norte de Moçambique. Em 11 de Março de 1966, cumpridos trinta dias de empenhamento durante os quais tinha realizado inúmeras operações de reconhecimento e combate, onde recolheu cerca de 260 habitantes, que transportou para Nangade, e destruiu três acampamentos inimigos e parte dos guerrilheiros, a 3.ª CCP/BCP 31 foi incumbida de capturar determinado Régulo da região onde predominava o dirigente da guerrilha, Lázaro Kavandame, e trazer com ele a respectiva população.![...napota2.Dornier sobre Napota BCP31.jpg]()
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Saídos às dez na noite da Base Táctica de Napota e percorridos vinte e cinco quilómetros na direcção Sul, os pára-quedistas descansaram duas horas, a uns escaços quinhentos metros do objectivo – um acampamento localizado no vale do rio Mulunga. Ao amanhecer, assaltaram a sanzala, mas apenas lá encontraram duas pessoas desarmadas. Procedeu-se à batida da zona em busca de outros indícios da presença de guerrilheiros e, quando já se desesperava, foi capturado um guerrilheiro armado com uma espingarda que se escondia na vegetação circundante. O então 2.º sargento Joaquim Coelho, comandante de Secção, recorda:
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"O assalto ao acampamento inimigo foi rápido, mas pouco produtivo. Apanhamos apenas um guerrilheiro armado, que ficou escondido para que a população e restantes guerrilheiros se pusessem em fuga. Provalvelmente, tinham sentinelas avançadas que detectaram a nossa proximidade. Apesar do nosso andamento acelerado para tentar capturar a população que se presumia ter fugido, foi uma tentativa frustrada e que nos levou a distanciar da nossa Base Táctica de Napota.
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A inclemência do sol da tarde começou a sacrificar o nosso corpo; alguns esgotaram a água dos cantis e a ração de combate também foi consumida. (…) O dilema de continuar no encalço da população daquela sanzala-acampamento ou regressar de mãos a abanar, começou a tornar-se um pesadelo. Por consenso, avançamos pelo vale com indícios de verdura e humidade na terra, tendo em vista encontrar água… com hipóteses de recolhermos a população. Muitos quilómetros percorridos naquele inferno escaldante e água nem sinal, mesmo nos buracos que escavámos com dificuldade nos locais mais húmidos. O flagelo da sede começou a ensombrar a nossa missão, e os reflexos psíquicos diminuem. Os corpos já se arrastavam com dificuldade, sacrificados pelo cansaço que se avolumou nas pernas. Depois de dezoito horas de andamento quase contínuo, só queríamos encontrar água, porque a sede é terrível e massacrava a nossa vontade de prosseguir.
As longas horas de percurso no vale resultam numa grande frustração. Antes de anoitecer, mudamos de rumo e seguimos para Norte, a caminho da Base Táctica. O guia já não tinha a certeza do caminho para regresso, mas sabíamos que, na direcção Norte, encontraríamos uma picada transversal, já nossa conhecida, a partir da qual há outro caminho para a Base Táctica. As horas eram negras como a noite, e os uivos chorosos das hienas entravam nos nossos ouvidos como um sinal de desalento – quase sempre se associam a morte. As hienas são uma espécie de carpideiras presentes nos velórios da vida selvagem!
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Aproximava-se a meia-noite fatídica! Os homens da frente chegaram a uma pequena clareira onde se cruzavam duas picadas. O Pelotão da frente parou e o tenente Resendes conferenciou com o capitão e decidiram uma pequena paragem para recuperação de alguns elementos que se arrastavam com muita dificuldade.
A Companhia começou a instalar-se, montando um cuidadoso dispositivo de segurança. A Secção do sargento Armindo tomou conta do lado esquerdo da clareira, a do sargento Botelho do lado norte e os restantes Grupos de Combate tomaram a defesa do Sul e da orla direita; já bastante a norte do rio Mulunga, local designado por Mendire, onde pretendemos descansar.
Com mais de vinte e seis horas de marcha nesse dia, os corpos precisavam de repousar e recuperar energias. Fora um dia de sede danada. Alguns soldados, mal puseram as mochilas no chão, encontraram dois potes com água, casualmente ali à sua mercê. Reserva do inimigo? Só podia ser! O tilintar dos cantis em busca de um bocadinho do precioso líquido levou outros a precipitarem-se na direcção do milagroso oásis. Houve alarido, enquanto tentavam apanhar algumas gotas.
Inesperadamente, dois ou três tiros disparados do exterior da clareira deixaram toda a gente em sobressalto. Os pára-quedistas que tentavam recolher água atiraram-se para o chão e outros rastejaram para fora do centro da zona descoberta, temendo o rebentamento de granadas atiradas pelo inimigo.
Passada a surpresa do ataque, os gemidos fizeram-se ouvir com lancinante pedido de socorro! Três pára-quedistas prostrados no chão; um morto (soldado n.º 118/64, Álvaro Augusto Farelo) e dois gravemente feridos (soldados n.º 125/64, João Miguel dos Santos Madriana e soldado Gomes). Os enfermeiros correram a reanimar os dois feridos, mas como o local não oferecia segurança, porque não tinha pontos de abrigo, o capitão mandou providenciar a remoção do morto e dos feridos para um local mais seguro. Cortaram-se ramos de árvores para, com as lonas das tendas, improvisar macas; os enfermeiros injectaram coraminas e coagulantes nos feridos, além de improvisarem a administração de soro. Um dos feridos começou a mexer a cabeça e perguntou o que estava a acontecer! O enfermeiro deu-lhe duas palavras para acalmar!
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Logo que ficaram prontas as macas para transporte dos feridos e do morto, a Companhia deslocou-se para local mais seguro, no meio de uma grande machamba de milho. Não havendo possibilidade de contactar Mueda para solicitar a vinda dum helicóptero para a evacuação das baixas, o capitão decidiu deixar ali o Pelotão com o morto e os feridos, enquanto os outros dois Pelotões continuariam a marcha até à Base Táctica em Napota, onde tinham possibilidade de comunicar via rádio com o comando da operação em Mueda e providenciar a vinda do helicóptero para evacuação e aviões para cobertura do pelotão sitiado. Se tudo corresse bem, as evacuações seriam realizadas no dia seguinte. Assim se fez, e o Pelotão, destroçado física e moralmente, com apenas dezoito homens em condições de combater, ali ficou à espera de socorros... que nunca chegaram!
Durante a noite manteve-se um extenuante esforço para reanimar os feridos, já que o morto estava em paz! O sargento Botelho preparava os frascos de soro que o sargento Ventura Pinto segurava na mão direita, enquanto o enfermeiro transferia o tubo da agulha para o novo frasco da nossa esperança. Eram quatro horas da manhã quando as aves vindas da mata ensaiavam os primeiros gorjeios. O corpo do Madriana estremeceu, respirava com muita dificuldade. As pulsações imperceptíveis e o sinal da morte atemorizaram os socorristas. As injecções de coramina não estavam a resultar e as hemorragias internas não foram estancadas. Na agulha encravada no braço já não circulavam gotas de soro, nem se detectava a cana da veia para meter outra agulha. Num arremesso de desespero, o sargento Botelho tirou a navalha do bolso, passou os dedos pela lâmina, dizendo ao enfermeiro que só puxando a veia do pulso para fora se poderia meter a agulha. O enfermeiro segurou o braço esquerdo do moribundo, com o bico da lâmina, o Botelho conseguiu enfiar a agulha. Do frasco caíram algumas gotas, numa lentidão de recusa à vida! Entre os dois socorristas cruzaram-se olhares de esperança. Mas as gotas pararam de correr e o corpo definhava a olhos vistos. A uma nova tentativa para injectar soro, o corpo já não reagiu e esmoreceu definitivamente. Não tinha sinais de vida! O desânimo era total entre aquele pequeno grupo de homens bem preparados para a guerra, mas incapazes perante a morte. A desafortunada vivência piorou quando o outro ferido, o soldado Gomes, começou a sentir-se desprotegido contra a sanha da morte que o rodeava; e lançou uma exclamação que aumentou a nossa inquietação:
- Meus irmãos, vejo que está próxima a minha vez, mas só vos peço que não me deixeis nesta terra longe dos meus pais... Mas teve logo a voz do sargento Botelho para o serenar…
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Os efeitos da sede já enevoaram os registos do cérebro e os olhos deixaram de enxergar os perigos que se ocultavam na mata... havia pouca convicção de sairmos dali incólumes… é sempre em frente, não nos vamos deixar definhar!
O Gomes tremia muito, perante a triste realidade dos mortos que definharam a seu lado. Mas não tremia de medo... porque a morte passou e poupou-lhe a vida nesta última viagem! Mas o sangue que se escapava da ferida aberta no seu peito era uma grande inquietação. Os borbulhões vermelhos fragilizam a coragem de qualquer corpo ferido. E a alma sentia-se ameaçada pela perda do seu suporte num corpo em sofrimento; por isso, tinha que tremer... O corpo do Gomes tremia, e cobri-o com a manta; mas o calor do sol era forte! Um absurdo de remédio, que nenhum de nós queria suportar!
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A fome e a sede perturbam a lucidez, como é natural; começamos a sentir os efeitos das alucinações que poderiam levar ao delírio! Era preciso procurar meios de sobrevivência, porque as rações e a água acabaram no dia anterior. Passava do meio-dia do dia 12 (Domingo) e não havia sinais de apoio aéreo, nem de quaisquer outros meios. Os sitiados pára-quedistas, desalentados e fracos, cada um a seu modo, procuravam proteger-se do sol abrasador, cortando milheiros para se cobrirem atrás dos minúsculos peitoris para defesa escavados na terra dura.
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O sargento Botelho, coadjuvado por dois soldados, foi junto do guerrilheiro que haviam aprisionado na véspera e intimou-o a levá-los rapidamente a uma machamba onde houvesse melancias, que eram frequentes na zona. E as milagrosas melancias – matam a fome e a sede ao mesmo tempo – apareceram no terceiro milharal. Cada um trouxe as que pôde, metidas dentro dos casacos camuflados. A distribuição foi ordenada e saciaram-se as bocas daqueles combatentes já em evidentes dificuldades.
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Seria uma hora da tarde, quando tudo sossegou. Os milheiros serviam de coberto… alguns até adormeceram, enquanto outros vigiavam. Inesperadamente, soaram dois estampidos secos. O sargento Botelho olhou nessa direcção e viu o soldado n.º 127/64, José Domingues de Sousa a tombar, com a cabeça a roçar a Armalite. Ainda ouviu os seus gemidos de fim de vida. A cabeça estava trespassada pelas balas; num arrebatamento doloroso, procurou-lhe a respiração, mas já não encontrou o fio de vida, porque a morte lhe roubou a vitalidade e surpreendeu-o no posto de vigia. A surpresa foi tal que ninguém queria acreditar! Num arremesso de raiva, às ordens do sargento Botelho, fizeram-se algumas rajadas de fogo em todas as direcções, enquanto o tenente Resendes apontava o morteiro e disparou duas granadas para o lado donde vieram os dois tiros certeiros que atingiram o Sousa que caiu morto e agarrado à arma no seu posto de observação.
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Esgotados e desidratados, os sobreviventes caíram na realidade e tentaram arranjar forças para reagir ordenadamente. Já o sol se inclinava no horizonte e continuava a não haver sinal de avião ou helicóptero para auxiliar os pára-quedistas naquele dramático desterro. Com alguns milheiros e pequenos ramos de arbustos fizeram-se umas toscas armações para dar alguma sombra protectora ao corpo dos vivos e prevenção da putrefacção dos corpos mortos. Foram horas de espera e desalento, sedentos de justiça e de água. Então, o sargento Botelho olhou os seus camaradas sitiados e indagou do tenente Resendes se tinha alguma ideia como sair daquele inferno! Não havendo resposta concludente, dado o estado deprimido do oficial, o sargento Botelho dirigiu-se ao sargento Ventura Pinto (ambos experientes da guerra em Angola): - Temos que sair daqui enquanto temos forças para seguir para o acampamento e pedir ajuda. Aceite a sugestão, a decisão foi transmitida ao pessoal.
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Agastados pelo desânimo de tantas horas de infortúnio e dor, acossados pelas balas dos macondes que lhes rondavam o poiso, sem possibilidade de transportar as baixas por dezenas de quilómetros até à Base Táctica e sem qualquer contacto rádio, àqueles vinte e oito páras oferecia-se uma única alternativa: abandonar a zona enquanto ainda dispunham de forças para tal. Antes de partir, enrolaram os três corpos nas capas impermeáveis e colocaram-nos nas minúsculas valas abertas com as forças que ainda lhes restavam após quatro dias de reduzidos alimentos e muita sede.
Depois de três dias de angústia entre continuar em local desprotegido, expostos às balas inimigas, ou ter de abandonar os corpos já pestilentos naquela machamba, a complicada situação fez de nós vulgares combatentes em luta pela sobrevivência perante invisíveis inimigos que vagueavam em redor do nosso inseguro poiso. Não desesperámos, mas deixámos os mortos, fomos pedir socorros e exigir helicópteros para os transportar, pois estávamos a cerca de quarenta quilómetros do acantonamento (…).
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Melhoramos as macas improvisadas de ramos de árvores para transportar os dois feridos, mas o ferido de menor gravidade entendeu estar em condições de seguir pelo seu pé e agarrou a sua arma e perfilou-se para seguir viagem… armadilhamos o local, para evitar a profanação dos corpos, e seguimos na direcção do acampamento, abrindo caminho em direcção à mata contígua, com uma barragem de tiros de raiva. Eram três da tarde do dia 12 de Março. O Gomes, ferido por bala na clavícula esquerda, seguia na maca improvisada. Era preciso encontrar uma picada já conhecida de missões anteriores, como referência essencial para palmilhar mais de quarenta quilómetros até à Base Táctica em Napota. (…) Sem esmorecimentos, foram-se revezando os soldados que transportavam o ferido, de modo a distribuir a carga que se tornava mais pesada à medida que ia diminuindo o caminho a percorrer. Num gesto inesperado, o Gomes pediu aos camaradas que o transportavam para colocar a padiola no chão; disse que a dor devida ao seu ferimento começava a ser mais suportável do que o sofrimento daqueles que o transportavam. Com o sangue coagulado na ferida, começou a andar pelo próprio pé.
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Chegaram à periferia da Base Táctica pelas seis da manhã do dia 13, lançaram os very-lights de aviso aos camaradas que ali se encontravam e que serviram para confirmar o reconhecimento recíproco. Parecia que as emoções das horas de infortúnio estavam a ficar para trás, quando souberam que um Pelotão de Pára-quedistas, comandado pelo alferes Pinto, havia saído em seu apoio, para a zona do desastre! O local tinha ficado armadilhado! Teriam eles o cuidado de cumprir as normas de segurança, usando a senha para saber se ainda havia camaradas na zona, antes de entrarem na machamba? Felizmente, este Pelotão regressou sem conseguir estabelecer contacto, só possível através de sistema de senha e contra-senha, que naturalmente não funcionou por não haver réplica no local do enterramento dos três mortos.
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Ainda da parte da manhã, um avião DO-27 veio lançar rações de combate sobre a Base Táctica e, a meio da tarde, um helicóptero veio recuperar os feridos para Mueda. Porém, no que respeita à recuperação dos mortos, tal só seria possível no dia seguinte, pois o helicóptero apresentava uma avaria na hélice.
No dia 14, passados trinta e cinco dias sobre a saída da Beira, os pára-quedistas realizaram a mais delicada e custosa missão daquele longo destacamento: resgatar os camaradas mortos, de modo a serem entregues aos familiares na Metrópole. Ao alvorecer, sob o comando do capitão Mascarenhas Pessoa, saíram da Base Táctica cerca de quarenta voluntários, decididos a aguentar um percurso de oitenta quilómetros entre a ida e a volta, sujeitando-se a inúmeras ameaças por parte da guerrilha em terrenos onde ela se movimentava com à-vontade. A meio da tarde, o grupo de resistentes atingiu o local onde repousavam os corpos sem vida de três camaradas. Pouco depois aterrou o helicóptero para a evacuação. Com a segurança devidamente montada, seis dos pára-quedistas mais afoitos prontificaram-se para levantar e acondicionar no helicóptero as lonas com os corpos frios daqueles valentes e agora amortalhados já em adiantado estado de decomposição.
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Regressados a Mueda, cansados das longas caminhadas, apeados e em viaturas, dos dias tórridos no meio da savana, das noites frias entre as matas; manhãs de sonhos em cenários de morte, com os corpos esguios e as carnes ressequidas de magreza, os rostos crestados pela dureza das jornadas; ainda nos esperava o ritual da embalsamação dos mortos. Quatro dias depois da recuperação dos cadáveres, este inesperado trabalho aumentou a nossa agonia.
O médico do posto de socorros de Mueda esperava a ajuda dos pára-quedistas para as formalidades da identificação dos defuntos e para o fecho das urnas. Mas os corpos desfaziam-se em pestilentos líquidos… e o sargento Botelho, usou dos conhecimentos de química e dirigiu-se aos aprovisionamentos do Batalhão de Engenharia sitiado em Mueda, onde lhe forneceram sacos de cal. Com umas ligaduras molhadas a tapar as narinas, uns iam espalhando cal viva à volta dos restos mortais e outros colocavam as tampas nas urnas. Trabalho ingrato, que ninguém aguentava mais de cinco minutos seguidos, sem ter que sair para respirar ar puro! Após o trabalho de soldadura do chumbo de cada urna, o sargento enfermeiro Franklin pregava uma pequena cartolina na tampa, com a identificação do defunto; além disso, riscava com a ponta duma tesoura o número e o apelido na madeira da urna.
Ainda os nossos defuntos não tinham sido exumados nas respectivas urnas com destino às terras de origem e mais cinco soldados do Exército foram mortos pelos efeitos do rebentamento de uma mina que destruiu o Unimogue em que regressavam de Diaca, via curva da morte Sagal. Nunca soubemos se regressaram à metrópole ou se foram ocupar as campas já abertas no cemitério de Mueda, onde Comandante local pretendeu enterrar os três defuntos pára-quedistas!
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(…) Assim é em Napota, terra de Macondes, neste dia 14 de Março de 1966, quando se desliga o fluxo da seiva que se escapa nesta penúria da guerra. De que vale sermos afoitos e eficazes no cumprimento das missões, quando os meios de apoio não existem, os grandes chefes nos ignoram e as distâncias nos deixam à mercê da sorte, porque um corpo perfurado perde a seiva da vida e jamais terá hipótese de receber os necessários socorros.[1]
NOTA: “Sargento Botelho” é o pseudónimo de Joaquim Coelho, usado nas narrativas literárias dos seus livros sobre o tempo em Moçambique.
# [1] A narrativa respeita o depoimento do segundo sargento Joaquim Coelho, na altura comandante da Secção que sofreu o maior número de baixas. As acções aqui descritas estão parcialmente incluídas em COELHO, Joaquim, Guerra Armadilhada, edições Sentinela, Vila Nova de Gaia, 2016. As partes em itálico correspondem a transcrições do livro.
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