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Moçambique: A desconfiança...

Avatar do autor Jota.Coelho, 11.11.07


DESCONFIANÇA das Populações
 – aliciamento de guerrilheiros
 
Depois de centenas de anos de amargos exemplos de injustiça para com as populações indígenas, as autoridades portuguesas estão a dinamizar processos de agradar ao povo africano, dando mais poder aos chefes das aldeias para fundamentar as acusações de abusos e corrigir excessos de autoritarismo. O aliciamento aos chefes do povo é um fenómeno que pouco interessa à Tropa, mas poderá ter algum benefício para que as populações dos aldeamentos comecem a confiar mais nas autoridades Portuguesas. Há o sentimento de que essa Autoridade não protege os africanos contra as arbitrariedades dos patrões brancos, até mesmo, da polícia e dos cipaios que actuam em rusgas e prendem pessoas por situações inexplicáveis. Para quem sempre viveu no mato e conviveu com a natureza, é difícil acreditar nas boas intenções das autoridades. Mas a intranquilidade advinda da insegurança das pessoas que vivem nas aldeias só pode contribuir para aumentar a desconfiança que leva as populações a fugir dos aldeamentos controlados pela Tropa e a contaminar o clima de paz que lhes tem sido prometido através da propaganda sonora e panfletária.
O resultado da nova organização política e militar da Frelimo trouxe até nós alguns dos seus quadros intermédios, porque descontentes com o previsível futuro. O aliciamento a esses chefes da guerrilha tem sido precipitado e pouco cuidadoso; pois, nunca se sabe se estaremos a favorecer potenciais inimigos que nos podem causar danos no futuro. Ainda mais grave é a situação de insegurança com a chegada dessas pessoas habituadas a combater a tropa portuguesa; chegam aos nossos acampamentos com um rol de críticas aos chefes da Frelimo, mas nunca se sabe quais as suas verdadeiras intenções.
Parte desses ex-guerrilheiros ficam em organizações clandestinas protegidas pelas autoridades portuguesas. Os próprios administradores de posto desconhecem o papel que será desempenhado junto das populações que se têm recusado viver sob a bandeira portuguesa; pois, sendo organismos clandestinos, manejados por homens da PIDE, há poucas probabilidades de resultarem. Isso já acontece nos postos de Macomia, Mocimboa da Praia, Palma e Mueda. A desconfiança nessas organizações clandestinas começa a causar inquietação no meio das Tropas, porque alguns dos elementos aliciados fazem parte dos “guias” que acompanham a Tropa em missões perigosas de assalto aos redutos inimigos. Em vez de servirem a nossa causa, podem criar situações de grave dano e violência contra os militares portugueses. No meio do mato, frente ao inimigo, será muito complicado saber quem trabalha para quem!
 
                          Nangade, Setembro de 1967
                                 Jiaquim Coelho
in "AGuerra Armadilhada"  - pedidos para: jotasousa39@gmail.com