Guerra Colonial, Exposição Fotográfica
Jota.Coelho, 07.07.07
A Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra, abriu ontem uma Exposição Fotográfica sobre o tema: "Soldados em África - Memórias".
A Exposição está aberta ao público até às 21Horas de 20 de Junho, na Torre de Menagem de Braga, junto às Arcadas. Teve o apoio do pelouro da Cultura da CM de Braga.
Como tenho feito com outras entidades, forneci grande parte das imagens expostas, de modo a divulgar o que foram as vivências na Guerra Colonial e as dificuldades dos soldados ao serviço da Pátria cujos governantes tão mal os tratam. Aos convidados foram oferecidos três POEMAS alusivos ao evento, entre eles:
DESEMBARCADOS
Mueda, Novembro de 1967
Ah, como é medonho
o sofrimento dos soldados
que mandaram para o planalto…
abandonados!
Privados do imaginado sonho
de darem o salto
como o fazem os desertores
em demanda do sustento;
ou como os exilados e traidores
à deriva do cata-vento.
-
Os navios deixam-nos na costa
(Porto Amélia ou Mocímboa da Praia)
já com saudades da catraia,
sempre crentes na aposta
da longínqua ideia difusa
do regresso à pátria-lusa.
Habilidosos no desenrasca,
não se afoitam em valentia
por saberem que qualquer dia
a caravana se atasca.
Vivem tempos de privações
cercados de arame farpado
em dias de intensas aflições
com o inimigo marafado.
Sentem o desconforto do abrigo
que os protege da morteirada
e da metralha do inimigo
que ataca pela alvorada.
-
Mas… o que mais entristece
é ver tombar um companheiro
cujo corpo arrefece
à sombra do embondeiro.
Sinto a violenta combustão
da alma que reclama
contra a ingrata humilhação
do sono em tosca cama
- uma sepultura sem caixões
feita pela lua cheia
onde os corpos esfacelados
nas violentas explosões
são recolhidos e embrulhados
na tenebrosa teia.
Vou deixar de pintar a realidade
e juntar-me aos que vivem às escuras
longe das noites inacabadas.
Sim… vou fechar os olhos e deixar
que a lua mostre a verdade
da vida dentro das barricadas
com a saudade a mastigar
o que resta da alma pura…
onde, sem dó nem piedade,
se espera a última amargura.
Joaquim Coelho
in "A Guerra Armadilhada" - jotasousa39@gmail.com
TORMENTOS
A noite de sono atormentado
em que dormimos acorrentados
à desgraça da pátria incapaz
de saber se ainda existimos…
abandonados nas terras recuadas
dos milheirais das machambas
onde mergulhámos
no lodo das incompetências
dos poderes soterrados em S. Bento
a sorte que nos cabe no momento
já se esboçava no desenlace
que a tragédia adiava
contra os combatentes cansados.
O pesadelo é uma eternidade
que a manhã acordou
quando a morte amarfanhou
mais um soldado valente
o socorro é a ínfima esperança
para nos livrar do tormento
que nos devora os sentidos
para reinventar-mos a vida
que nos foge com o tempo
no prelúdio da sepultura…
o silêncio dos olhares
deu alento à decisão
levar os feridos aos ombros
e caminhar pelo sertão
fugir do ambiente hostil
que nos mordia a vida
alancar até Napota
nossa terra prometida
acertar contas com os sacanas
que nos atiram p’ro inferno
por abandonarem nas savanas
os mortos no sono eterno.
Mutamba dos Macondes, Março de 1966
Joaquim Coelho