1961 - Reconquista do Norte de Angola
Jota.Coelho, 24.03.25
Em ANGOLA… Repórter de Guerra
A fotografia sempre me fascinou. Desde novo, acompanhava os turistas nas visitas à cidade e Caves do Vinho do Porto em Gaia, sempre com a máquina de fole AGFA; fiz cursos de Jornalismo no “SÉCULO” e repórter na Escola do Álvaro Torrão, quando estava na Força Aérea, Base Aérea 1, em 1960. O princípio de uma longa caminhada em Reportagens pelo mundo: Angola, Moçambique, Vietname, Kosovo, Bósnia, Líbano, Caxemira, Paquistão. Começamos em Angola...
Antes de entrar na preparação para o curso de Paraquedista em Maio de 1961, aproveitei 15 dias de férias para acompanhar a equipa de Jornalistas, chefiada pelo Artur Agostinho da RTP, com vista a fazer a cobertura do início da guerra em Angola. Fui aceite para fazer reportagem para o Século e lá seguimos para Luanda. No decorrer das reuniões e reportagens conheci o Joaquim Cabral (repórter do CITA – Centro de Informação e Turismo), o José Dionísio, o João Azevedo, o Horácio Caio, o jovem Fernando Farinha e dois directores de jornais.
O ambiente em Luanda era tenso e todos os dias havia mortos baleados nas ruas da baixa, tendo as viaturas do Exército o trabalho de fazer a recolha dos corpos, logo pela manhã. Num ambiente de grande inquietação e incertezas sobre o que se passava na região das fazendas do café, chegavam ao Aeroporto os aviões civis que conseguiam evacuar algumas famílias foragidas da região dos Dembos, parte delas sem saberem do paradeiro dos outros fazendeiros e trabalhadores do café que tinham fugido para o meio das matas, tentando escapar à sanha terrorista dos bandoleiros da UPA.
Como estava em curso a saída de uma coluna militar para a região dos ataques terroristas, fui integrado na coluna de viaturas com os Caçadores Especiais, percorrendo o itinerário desde o Cacuaco até Quibaxe, onde encontramos picadas obstruídas com grandes árvores, perigosos buracos encobertos com ramos e valas fundas. Em cada curva ou zona de arribas havia o perigo das emboscadas, de onde saíam dezenas de terroristas de catana em punho e alguns canhangulos, ao que as tropas respondiam com as armas que tinham, dizimando muitos dos que enfrentavam a tropa de peito aberto. Sendo os Caçadores Especiais a tropa mais em prontidão e com experiência das lutas durante a revolta dos trabalhadores do algodão para a Cotonang, mostraram grande aptidão para enfrentar os terroristas. Os dias de confrontos deixavam um cenário desolador e de morte, onde as hienas e mabecos davam sinais de fartos manjares durante a noite.
Com muito custo e perigos consequentes, chegamos a Quibaxe, após uma semana de sairmos de Luanda. Aproveitei a boleia do avião civil que levou provisões para o pessoal da coluna e voltei a Luanda, para regressar à Metrópole, enquanto a coluna dos Caçadores Especiais prosseguiu mais para o norte.
Antes de partir para Portugal, estive alojado com os Paraquedistas na Fortaleza, local de aquartelamento das poucas dezenas que estavam em Angola desde 1960, chefiados pelo Tenente Manuel Claudino Martins Veríssimo, com uma boa secção de cães de guerra. Assim, fiquei ao corrente da organização de equipas de intervenção que iam embarcando para as zonas mais problemáticas, como Damba, 31 de Janeiro, Bembe, Negage…
Durante os últimos dias de Março, antes da Páscoa, participei no encontro de jornalistas e escritores angolanos e cabo-verdianos, na Casa do Porto, onde tive a sorte de encontrar gente culta e afectuosa; conversei e convivi com a Maria Ondina, professora franzina, aparentemente, reservada e bastante culta; enquanto esperamos para reunir com jornalistas numa casa virada para a Baía de Luanda; estivemos no Beileizão a saborear uns gelados… aí, o jornalista Ernesto Lara Filho, da revista Notícia, apresentou-me a irmã, poeta e médica Alda Lara, que havia chegado de Benguela com a Maria Ondina e logo entabulamos conversa sobre novas de Lisboa, e qual o meu papel em Angola! Trocamos ideias sobre os problemas da guerra, onde lhe disse estar em preparação nos para-quedistas e que, mais cedo ou mais tarde, iria fazer companhia aos camaradas que estavam em Angola desde 1960.
Joaquim Coelho
Com os Caçadores Especiais e 6ªCC: